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“OS DESAFIOS PARA A INCLUSÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA”

A Educação inclusiva supõe uma escola inclusiva, uma escola que ‘arranja maneira’ de acolher todas as crianças e jovens da sua comunidade, flexibiliza e adapta os seus currículos, não se limitando a reduzi-los, reestrutura as suas práticas de organização e de funcionamento, de forma a responder à diversidade dos seus estudantes, desde os mais vulneráveis aos mais dotados, apostando na mudança de mentalidades e de práticas, implicando, valorizando e corresponsabilizando todos os intervenientes no processo educativo. (Sanches, 2011, p. 137).


Na agenda de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 descritos pela ONU é reforçada a premissa de que “Ninguém deve ser deixado para trás” Neste sentido, falar sobre inclusão vai para além da matrícula da criança na escola, mas da sua permanência, desenvolvimento, aprendizagem. A Inclusão Escolar, pautada no Paradigma da Educação Inclusiva, é geradora de desafios múltiplos às escolas, professore e também das famílias. Apesar das inúmeras conquistas, ainda que recentes, em relação à legislação, ainda há muito espaço para avanços em linhas mais concretas.

Já sabemos o porquê devemos incluir e temos muitas ideias de como fazê-la, ainda assim é preciso, coragem, persistência e ousadia. Coragem para enfrentar todos aqueles que ainda não acham que é possível, persistência porque não iremos acertar a primeira e ousadia já que toda mudança implica em inovação e quebra de padrões.

Dados recentes mostram que a o número de alunos que fazem parte do público-alvo da educação especial é de 1,2 milhão (Agência Brasil, 2019), o que mostra a responsabilidade da escola regular em parceria com os professores, auxiliares, todos aqueles que fazem parte da escola, famílias e a sociedade em geral de lutarem pelos direitos que todos estes alunos possuem de aprender e desenvolver os seus potenciais.

Os desafios não são poucos. Então, como fica a inclusão em tempos de crise?

A crise causada pela pandemia do novo Corona Vírus não criou problemas diferentes, mas desmascarou os antigos. Vemos hoje, com muita clareza, as dificuldades enfrentadas por professores e alunos com deficiência e/ou outras problemáticas a lutarem para ter acesso à educação. E, crescem, assim os abismos entre aqueles que têm acesso às aulas e conteúdos remotos e, por outro lado um conjunto que, quando possuem o acesso, não possuem as adaptações necessárias.

Assim, como podemos fazer com que o conhecimento chegue a todos? A proposta pode ser trabalhada em três etapas, a saber:

·         Análise contextual dos alunos;

·         Criação de um plano de ação;

·         Aplicação e avaliação dos resultados.

Para pensar nos alunos que apresentam alguma deficiência, transtorno ou até mesmo uma dificuldade acentuada que requerem um planejamento individualizado para o que o mesmo alcance as suas aprendizagens é necessário reflexão e ação. Uma não deve existir sem a outra. De nada adita pegar em ações já existentes sem refletir a especificidade da situação de cada um e o mesmo vale para a reflexão que sozinha não resolve os problemas.

O Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) é uma perspetiva que pode e deve ser usada para repensar o currículo e a sua apresentação para o aluno. Neste sentido, o professor deve pensar em diferentes meios de apresentação e expressão, a partir da motivação dos seus alunos (CAST,2014).

Desta forma, o DUA implica uma alteração do currículo em todas as suas dimensões: a avaliação, a prática pedagógica e a participação e progresso de todos os seus alunos. Sempre considerando três princípios básicos (Meyer, 2002):

·         proporcionar múltiplos meios de representação;

·         proporcionar múltiplos meios de ação e de expressão;

·         proporcionar múltiplos meios de envolvimento.

            

 

Figura 3. Princípios básicos do DUA (adaptado CAST,. 2014).

 

Seguem algumas estratégias práticas que podem ser utilizadas em diferentes idades, mas que proporcionam um ambiente educativo flexível, dinâmico, diversificado, a ver:

·         Utilizar como ponto de partida o que o aluno já sabe - perguntar, criar discussões, debates;

·         Realizar uma aula diversificada - música, tecnologia, materiais diversificados;

·         Empregar diferentes espaços – mesmo em casa é possível fazer pesquisas pela janela, por exemplo;

·         Lançar desafios aos alunos - colocá-lo a pensar sobre os problemas do cotidiano;

·         Contextualizar os assuntos - dar sentido e significado;

·         Trabalhar por projetos;

·         Ouvir mais - aprendizagem é TROCA.

Estas estratégias criam um espaço de maior possibilidade de troca entre os alunos. No trabalho por projeto, por exemplo, é possível que cada integrante do grupo possa trabalhar com as suas aptidões, possibilitando o intercâmbio e a cooperação de todos com todos. (CAST, 2011)

A base do ensino é a relação e esta não pode se perder. Não teremos atitudes perfeitas, mas possíveis para realidade que vivemos. Então, seja por ligação telefónica, e-mail, redes sociais (WhatsApp, Youtube, Facebook), correios, radio ou reuniões por plataformas de ensino remoto, temos que pensar em formas de chegar até os nossos alunos e nas suas famílias. Dar condições para que eles sigam com as suas aprendizagens.

Fica o convite para continuarmos a luta por mudanças significativas do sistema de ensino como um todo, podemos começar pela transformação das mentalidades, visões e abordagens para com o ensino, rompendo barreiras e alargando as fronteiras das possibilidades de aprendizagem em todo e qualquer espaço.

Bibliografia

CAST, C. f. (2011). Universal Design for learning guidelines version 2.0. Obtido em 2018, de Wakefield, MA: Author.: http://www.cast.org/udl/index.html

Meyer, D. R. (2002). Teaching Every Student in the Digital Age: Universal Design for Learning. MA:: Brookline.

Pletsch, M. D. (janeiro de 2014). Educação Especial e Inclusão Escolar: Políticas, Práticas Curriculares e Processos de Ensino e Aprendizagem. Poíesis Pedagógica, 12(1), 7-26.

Sanches, I. (2011). Do aprender para fazer ao aprender fazendo: as práticas de Educação inclusiva na escola. Revista Lusófona de Educação(19), 135-156.


Autora: MARIANA FENTA - Psicopedagoga, Mestranda em Ciências da Educação Especial - Domínio Cognitivo e Motor, pela Universidade Lusófona na de Humanidades e Tecnologia.

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